Saudades do Chile

Dias assim me dão saudades do Chile
Do ar seco
Das estrelas a um metro da visão
Dos frios dias de sol
Do céu azul
Malabares com fogo para aquecer
Teatro amador de rua aos domingos para entreter
Do comércio fechado na hora do almoço
Das cores contrastantes do solo
Da linha de trem cruzando o deserto
Rebanho de lhamas enfeitadas de flores e cores
Encosta subindo a serra do mar
E o Pacífico, zangado, gelado, mais azul que o céu
Do pôr do sol alaranjado intenso
Do cheiro salgado da maresia
Das pessoas que conheci
Daqueles que abracei, com quem cantei, me dividi
Menos sal
Mais açúcar das frutas: mandarina e palta com ensilla
Churrasca na feira de rua
"Café!" - ouvia-se o rouco grito de um senhor na chuva
Casa Ocupa: reggaton
Los Bunkers: rock universitário, ocupando espaços em busca de ensino de qualidade
Tornei-me hermana, compañera, militante, anarquista
Tinham dúvidas se da Espanha ou do Uruguai: identidade universal de viajante
Saudades das histórias que ouvi
Da pessoa que me tornei depois que estive ali
Horas de viagem beirando mar sem fim
Cemitérios à beira mar desértico
Comunidades pré-históricas resgatadas para registrar os ancestrais na memória
Povos Andinos. Atacama. O melhor lugar do mundo para ficar perto do céu
Para admirar as estrelas
Para sentir o sol
Para ficar só
Saudades das palavras que me diziam
Das coisas que vivi
Dos cheiros, da noite, da sopa de mexilhão do mercado central, de compartir o pão
Do constante contato com a areia do mar
O Chile. Dois meses. Dez anos.
Saudades de você.